domingo, junho 01, 2008

A Escrita da História em Alcácer: O Contexto Islâmico

A representação da Guerra no al-Andalus, no Século XIII, segundo as Cantigas de Santa Maria de Afonso X.

Existem várias posturas metodologicas para a produção historiográfica, que definem limites e objectivos, dentro de "Escolas".
Não vou entrar por aí. Apesar da sua discussão ser importante, considero que foge deste patamar de reflexão.
Pela minha parte, na minha produção historiográfica, tenho procurado dentro dos possível elaborar textos simples.
Na realidade, não estou interessado em "complicar o Discurso explicativo" das questões historiográficas que costumo abordar
Mas reconheço, que ultimamente, caso do artigo sobre a Mulher Islâmica, inserido no trabalho " Alcácer Terra de Deusas", tenho enveredado pela utilização de termos derivados da língua árabe. Se efectivamente queremos saber o que aqui se passou nessa época, em termos metodológicos, é difícil fugir.
Para uma maior aproximação à verdade histórica, o ideal até seria escrever essas palavras na grafia Árabe, porque era a lingua aqui falada em Alcácer. Como tenho conhecimentos básicos de lingua árabe e há muito tempo não treino a prática da escrita e leitura, vou antes ficar pelas transliterações.
A titulo de exemplo:
- Utilizo o termo Lamtuna (tribo Saaariana da actual Mauritânia) para me referir aos Almorávidas. Desta forma, os alcacerenses apercebem-se que soldados e dirigentes de tribos berberes do deserto do Saara estiveram à frente do governo de Alcácer pelo menos entre 1094 e 1146. Esses berberes que aqui viveram, eram descendentes de condutores de caravanas de camelos no deserto Saariano, desde o rio Senegal (norte de Dakar) até às cidades conquistadas ao Império Negro do Gana, até ao rio Niger.
Há um ponto que é importante frizar:
- Os muçulmanos não se consideravam todos iguais entre si. Em contexto islâmico penínsular do al-Andalus isso é claramente vísivel nas fontes.
Os imperios Magrebinos dos Almorávidas/Lamtusa e dos Almoadas/Masmudas sempre foram vistos como estrangeiros e em termos despreciativos, como pastores de camelos.
O soberano Taifa Abássida/Sevilha, quando foi interrogado pelo seu filho, porque solicitava o apoio militar dos Lamtuna, ciente do perigo que isso poderia representar para ele, respondeu:
-Prefiro ser pastor de camelos no deserto do Saara do que guardar porcos em Castela.
Mas nem todos pensavam assim. No nosso caso, os alcacerenses em 1158, solicitaram a protecção do reino de Portugal, pagando para isso um imposto, que foi determinado num acordo celebrado entre os dois soberanos:
- Ali b. Wahibi pelos alcacerenses e D. Afonso Henriques pelos portugueses.
Quando este acordo acabou, com o assasinato de Ali b. Wahibi, pelos alcacerenses saturados de pagarem muitos impostos, é que o rei português consumou a conquista de um território que na prática já considerava como seu, como é demonstrado pelos "Anais de D. Afonso Henriques" que lacónicamente e pouco à vontade fala da conquista portuguesa de 1158.

Noiva Berbere de uma tribo do Atlas.

No caso dos berberes Saarianos, como por exemplo, no caso das tribos que suportavam o aparelho militar dos Almorávidas, só os homens é que tinham o direito a taparem o rosto. As mulheres Lamtuna pelo contrário, nunca tapavam o rosto, participavam activamente na política, a ponto de algumas delas orientarem as políticas seguidas e como se não bastasse, os clâs eram definidos pelo ramo feminino, caso dos Banu Fatima, etc, o que confundia as práticas culturais andalusas.

A prática masculina saarauí de tapar o rosto, tem a ver com o facto de os homens, como condutores de caravanas de camelos, usarem isso como defesa contra as frequentes e letais tempestades de areia.

Quando chegaram ao andalus, os clãs berberes Mauritanios, mantiveram essa prática como destinção cultural, para não serem confundidos com os muçulmanos do Andalus. Por isso ganharam a alcunha dos os "velados".

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